quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Levitas remunerados (1 Crônicas 6.31-32)

obreiros, é grande a seara, os trabalhadores são poucos, ministério de música
Devocional de 26/02/2014.

"Estes são os homens a quem Davi encarregou de dirigir os cânticos no templo do Senhor depois que a arca foi levada para lá. Eles ministraram o louvor diante do tabernáculo, da Tenda do Encontro, até quando Salomão construiu o templo do Senhor em Jerusalém. Eles exerciam suas funções de acordo com as normas estabelecidas" (1 Crônicas 6.31-32).

A tribo de Levi havia sido separada dentre as doze tribos de Israel em lugar dos primogênitos como aqueles que deveriam cuidar do Tabernáculo. Quando Davi se tornou rei, ele estabeleceu que parte desses levitas deveria ministrar o louvor diante do Tabernáculo, na Tenda do Encontro. Davi estabeleceu também que estes louvores a Deus fossem expressados como música diante da Arca da Aliança depois que ela fosse levada ao Templo (que ainda viria a ser construído por seu filho Salomão). Os nomes das pessoas encarregadas desse serviço e as normas para sua execução foram estabelecidas e seguidas durante anos.

Muitos anos depois, já no período do exílio, quando o povo de Israel e de Judá foi deportado para Assíria e Babilônia, os dois livros de Crônicas foram escritos com o intuito de registrar não somente a história dos reis de Israel, mas também para preservar a genealogia e a identidade dos israelitas. A identidade de Israel era fortemente associada ao Tabernáculo, e consequentemente ao Templo. E ao se referir ao Templo, a adoração é lembrada não somente na questão dos sacrifícios conduzidos pelos sacerdotes, mas também pelos cânticos liderados por este grupo de levitas.

A música marca uma geração. Nem mesmo os profetas, apesar de suas escolas, eram registrados como uma classe organizada de ministração em Israel (pelo contrário, os profetas geralmente eram odiados). Mas os cantores tinham seus nomes listados por turno e função. E as normas e procedimentos eram cuidadosamente ensinados e seguidos, destacando-se os detalhes do "como fazer", ou seja: os ritmos, as melodias, as combinações harmônicas que deveriam ser usadas em cada festa e em cada tipo de ministração.

A partir de Davi, o rei harpista que desde moço expulsava espíritos imundos enquanto tocava, o ministério de música foi estabelecido e organizado. Este ministério obteve grande responsabilidade e destaque em Israel, e assim se manteve durante gerações. A identidade de Israel como povo de Deus deve muito à música criada e ministrada em louvor ao Senhor.

E hoje? A música cantada nas igrejas em louvor ao Senhor tem a função semelhante de nos identificar como povo dedicado a Deus? Se a resposta fosse não, então precisaríamos reduzir ou até excluir o tempo dedicado à música na igreja... Mas nós acreditamos que sim, que existe uma relação entre o ministério de música na igreja de hoje e o ministério de música no Tabernáculo e no Templo de Jerusalém. Portanto, precisamos rever algumas questões, e a principal delas é a Profissionalização!

Ao organizar a adoração, o que o Espírito Santo fez (através de Moisés, de Davi ou dos líderes que vieram depois dele) foi profissionalizar a atividade, estabelecendo padrões e destacando pessoas para o exercício deste ministério. Essas pessoas tinham obrigações para com o templo e trabalhavam nisto com dedicação exclusiva. Em contrapartida, o governo de Israel garantia o sustento desses levitas.

A Bíblia diz que não se pode amarrar a boca do boi enquanto ele faz o seu trabalho, e o trabalhador é digno do seu salário (1 Timóteo 5.18). Ao longo da história, este texto foi utilizado para justificar a remuneração de pastores, que atuam basicamente como pregadores, conselheiros e administradores - o que é justo. Mas é raro vermos alguém defendendo a profissionalização dos músicos na igreja. Por quê?

Alguns poderiam alegar que os músicos, ao contrário dos pastores, teriam a dedicação parcial e não integral. Que disse? Primeiro que há muitos pastores que trabalham no ministério com dedicação parcial, e ainda assim fazem retiradas eclesiásticas para acrescentar à renda secular que obtêm de seus trabalhos. Portanto, por que músicos, ainda que com dedicação parcial, não poderiam ser remunerados?

É preciso rever isto. É claro que o trabalho voluntário (sem remuneração) sempre existirá e deve ser incentivado. Mas se a igreja tem condições de sustentar diversidades de ministérios e entender que há obreiros que deixam de se dedicar ao Reino de Deus porque precisam trabalhar em outras coisas para garantir renda mínima em atividades seculares, é claro que a igreja deve investir nesses obreiros.

Entenda: não estou defendendo que o ministério de música seja mais importante ou tão importante quanto o ministério da palavra... nem que o ministério de ensino e supervisão de células seja mais ou menos importante que o ministério de administração e finanças. A questão aqui não é a relevância de uma coisa versus a outra, pois assim como os membros do corpo têm diferentes funções e todas são importantes, assim também os diferentes ministérios têm diferentes atribuições e todos são importantes (Romanos 12.4-8). O que estou afirmando é a igreja hoje muitas vezes deixa de crescer e multiplicar seu alcance porque embora valorize e remunere as funções administrativas e pastorais, ela deixa de valorizar, remunerar e consequentemente cobrar mais de outras funções que são tão importantes quanto estas, especialmente aquelas ligadas à música, ao evangelismo urbano, à diaconia, à ação social, à portaria, à alimentação, a oração e outras funções consideradas fundamentais em muitas reuniões da igreja.

De novo: Estou defendendo o fim do voluntariado? De modo nenhum! É exatamente o voluntariado que torna a igreja tão rica e tão linda, com tanta gente trabalhando, se alegrando e louvando a Deus com seus dons... Mas estou sugerindo que a coordenação e a execução contínua de funções fundamentais ao bom funcionamento da rotina da igreja sejam profissionalizadas, isto é, que as responsabilidades fiquem claras e as pessoas sejam remuneradas para essas funções assim como os pastores o são. A profissionalização tornaria as pessoas menos dedicadas? De modo nenhum. O fato de um ministro receber dinheiro da igreja onde atua o tornaria mercenário ao invés de missionários? Claro que não. Defender isto seria o mesmo que afrontar todos os pastores que hoje fazem retiradas.

Quanto cresceríamos se pudéssemos garantir a dedicação de um grupo de pessoas experimentadas, dedicadas, talentosas e cheias do Espirito Santo, para preparar com profissionalismo o louvor da igreja, a intercessão contínua, o convite para a vizinhança vir aos cultos, a comunicação dos cultos através de tv, internet, rádio, etc., a comunicação adequada da mensagem, a atividade social da igreja, o ensino da palavra e a pregação? 

Se a igreja cristã hoje não pode contar com o privilégio bíblico de ser patrocinada com dinheiro público, uma vez que uma nação dedicada a Deus entendia que o louvor patrocinado trazia bênçãos para o país, e por isso mantinha seus levitas, não tenho dúvidas de que nós os crentes não deveríamos deixar de dedicar com todo amor os dízimos e ofertas para a manutenção de missionários, músicos e mestres, além da adoção de órfãos, viúvas e pessoas carentes em recuperação. Investir no Reino de Deus é investir em pessoas!

O perfil da sociedade mudou, e o da igreja também. Quando o protestantismo chegou ao Brasil através de missionários americanos e europeus, esses missionários dedicavam pastores à igreja, e esses pastores eram "faz-tudo" na rotina da igreja, tanto nos cultos quanto no dia-a-dia. Eles recebiam na porta, cantavam, tocavam, pregavam, pediam oferta, contavam dinheiro, pagavam as contas, ajudavam os necessitados, evangelizavam o bairro, aconselhavam as famílias, ensinavam bíblia na escola dominical, promoviam cultos nos lares, denunciavam a corrupção, abriam o templo, fechavam o templo, intercediam pelos crentes, enfim... faziam tudo! Recebiam alguma ajudinha de irmãos voluntários, mas esses irmãos não tinham estrutura nem dedicação para fazer algo excelente, e o número de pessoas que frequentava uma igreja era pequeno, bem como o dinheiro envolvido. Era justo que esta dedicação exclusiva fosse remunerada.

Hoje, porém, as igrejas contam com dezenas, centenas e algumas até com milhares de pessoas envolvidas no ministério! Os pastores lideram e supervisionam algumas funções, mas outras nem vão acontecer se depender deles... Grupos de louvor se revesam em atualização, preparação individual, ensaios, orações, ministrações e improvisações... Grupos de dança da mesma forma... atores de teatro, professores, conselheiros, evangelistas, missionários, pregadores, porteiros, diáconos, intercessores, decoradoras, cozinheiras, líderes de células, supervisores de células, operadores de áudio, operadores de vídeo, fotógrafos, redatores de boletins, jornais, sites, revistas, etc. E infelizmente muitas atividades nem são exercidas porque "falta gente" mesmo tendo o Senhor dado à igreja uma pessoa com talento para se dedicar a isto. O exemplo que mais corta o coração certamente é o do missionário-evangelista. Quanto deixamos de abençoar o Brasil e a nós por não conseguirmos enviar e bancar evangelistas para uma região periférica ou interiorana do Estado!!!

Significa que todos devem ser remunerados por qualquer trabalho eclesiástico? Claro que não! Mas a igreja precisa avaliar com amor e entender se alguma dessas funções que não existe viria a acontecer ou se, existindo, produziria resultado significativamente melhor se a função fosse remunerada, isto é, o que aconteceria se algumas das pessoas que hoje executam essas tarefas no horário possível fossem separadas para isto com dedicação de tempo maior. Há muito o que fazer! Há muitas cidades, mesmo aqui no sudeste, onde as pessoas não têm acesso ao Evangelho... E muito mais campo de trabalho há ainda se considerarmos missões indígenas, ações sociais no sertão e missões inter-culturais...

Por que o rei Davi promoveu a profissionalização no templo? Porque ele amava o Senhor e queria promover o crescimento Reino de Deus! Toda organização envolvendo muita gente, e consequentemente, muito dinheiro, precisa ser profissionalmente estruturada para atingir seus objetivos. O lucro da igreja são vidas! A igreja precisa direcionar seus esforços para o louvor da glória de Deus, isto é, para que a comunidade à sua volta se converta a Cristo; para que as comunidades vizinhas sejam impactadas e abram novas igrejas; para que as pessoas que se converteram e estão na igreja cresçam espiritualmente, sejam discipuladas e se tornem obreiros; para que os cultos sejam inspiradores e sempre cheios de visitantes outrora sem-igreja; para que a fome e a miséria sejam extirpados; para que o pecado da nação seja denunciado; para que o Espírito Santo sempre atue na igreja (por isso é necessário muita oração); para que os doentes sejam curados, os espíritos imundos sejam expulsos, as almas feridas sejam saradas e as famílias reestruturadas; para que a glória do Senhor cause impacto em todos nós - e não apenas uma rotina onde todos já sabem o que vai acontecer logo em seguida. Todo dinheiro possível deve ser empregado nisto! Quando a sociedade perceber o benefício que a salvação de vidas traz à nação, desde a redução de doenças até a queda da violência, ela certamente terá prazer em investir nesta causa.

Isto é algo que as igrejas do Senhor na América e na Europa pararam de fazer, e por isso o pecado cresceu e o reino de Deus foi sendo deixado para trás... É contra isso que precisamos lutar e dedicar todo nosso esforço e inteligência, como Davi fez ao destacar os levitas no templo de Jerusalém. Não podemos admitir que o Evangelho no Brasil seja diminuído em seu alcance. Não podemos deixar que as pessoas deixem de frequentar as igrejas. Temos que combater o bom combate e alocar o maior número de obreiros como "militantes" cristãos que lutam pela causa de Cristo: a salvação de vidas!

Que nossa sociedade e nossos governantes sejam visitados pelo Espírito Santo e aprendam com o rei Davi a priorizar a adoração a Deus como a coisa mais importante que deve acontecer em nossas vidas e em nossa nação. É grande a seara e são poucos os trabalhadores (Lucas 10.2)! Precisamos rogar ao Senhor da seara para que mande mais trabalhadores, e também alertar aos administradores da seara para que contratem mais trabalhadores. Precisamos ter levitas remunerados. Vamos orar e trabalhar por isto!

Deus te abençoe. Graça e Paz!

blogdopastortulio.blogspot.com.br

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