Não por força nem por violência (Zacarias 4.6)

Devocional de 10/06/2014.

"Esta é a palavra do Senhor para Zorobabel: ‘Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito’, diz o Senhor dos Exércitos." (Zacarias 4.6)

No último devocional, fundamentado em Ageu 2, falei sobre Zorobabel, governador de Judá, que era um servo do Senhor considerado como o seu anel de selar, isto é, seu carimbo e assinatura. O profeta Zacarias, conterrâneo mais jovem de Ageu, também profetizou para Zorobabel, revelando-lhe que as pessoas usadas por Deus vencem pelo poder do próprio Deus.

A força e o poder humanos não são os instrumentos que Deus costuma usar para realizar a sua vontade. A violência e a autoridade do poder político, do dinheiro, da fama, do conhecimento, do título, do sobrenome, da tradição, da exposição midiática, da organização social ou de multidões não costumam ser os instrumentos por meio dos quais o Reino de Deus é estabelecido. A vontade de Deus geralmente é feita no silêncio, na humildade e na simplicidade de improváveis acontecimentos envolvendo pessoas pouco conhecidas, pouco poderosas e pouco endinheiradas.

O Espírito de Deus vem sobre aquele que se esvazia de si mesmo e permite que Deus o transforme e o faça produzir amor, paz, alegria, paciência, gentileza, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. É preciso morrer para nascer de novo. É necessário abdicar da força humana para lutar com a força de Deus. O pequeno Davi não venceria Golias se lutasse com o armamento que Saul lhe ofereceu. Mas também não venceria se não lutasse. Ele enfrentou o inimigo com a coragem e a indignação geradas pelo Espírito Santo.

Zorobabel só era o anel de autoridade do Rei do Universo porque antes disso ele estava a serviço desse Rei, com o coração totalmente dedicado a ele. Nenhuma resistência seria quebrada, nenhuma volta do exílio seria liderada, nenhuma adoração a Deus seria restituída se o governador de Judá tentasse executar isso tudo por decreto autoritário ou pela violência de seus exércitos. O Senhor deixou claro que tipo de liderança ele gostaria que fosse exercida. Como um líder-servidor Zorobabel realizou a vontade de Deus, tirando Israel de Babilônia, Pérsia e Média, e trazendo-o de volta à sua terra, na região palestina.

A igreja do Senhor não deve achar que o poder e a violência humanas serão os meios pelos quais Deus realizará a sua vontade. Por volta do ano 300 d.C. o imperador Constantino tentou cristianizar o mundo por decreto, mas a história mostra que, na prática, a imposição de uma religião oficial poucas conversões genuínas gerou. É pelo Espírito de Deus que as pessoas serão transformadas, não por violência. É de dentro para fora que os pecados serão renunciados, não por proibição. É por amor que as pessoas devem servir a Deus, não por medo.

Muitas igrejas atuais, com seus gigantescos projetos de comunicação e expansão, com suas poderosas e estranhas alianças políticas, com seus ousados sistemas de arrecadação e administração e com seus arrojados e indutivos métodos psicológicos não me parecem estar agindo pelo Espírito do Senhor de Nazaré, mas sim pela força e violência humanas. Erroneamente, os valores do Reino de Deus são relativizados a fim de que os valore$$$ do governo do homem sejam obtidos tendo em vista a continuidade do crescimento da igreja e o bem-estar e o conforto de seus líderes. Crentes que não estudam nem leem a Bíblia dificilmente aprendem com a história nem com o Espírito de Cristo.

Se quisermos servir a Deus, precisamos abdicar do triunfalismo humano e do racionalismo materialista que move a cultura do mundo e também a cultura eclesiástica em nossos dias. Ninguém pode servir a Deus e ao Dinheiro: adorar um significa abrir mão do outro. O amor ao dinheiro é a raiz do mal que assola o nosso tempo. Quando definimos nossa profissão, nosso local de trabalho, nossas amizades, nossas prioridades e nossas escolhas com base no que estamos recebendo em troca - e não com base na vontade de Deus - estamos declarando quem é o deus que servimos com nossas atitudes - ainda que nossas palavras digam outra coisa.  

O que você faz diz mais sobre quem você é do que o que você diz. Se você se move pela força humana e toma decisões que violentam seus valores, você não está em sintonia com o Espírito de Deus. Para fazer a vontade de Deus você precisa pensar, agir e viver de acordo com o modelo e o padrão que Deus estabeleceu, e este padrão se fez carne em Jesus. Se você quiser ser discípulo de Jesus precisa negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-lo. Isso tem pouco a ver com abraçar uma religião ou frequentar uma igreja dominicalmente. Ser discípulo de Cristo está muito mais relacionado ao que você faz no seu dia a dia.

Zorobabel era governador de Judá, mas não seria pela imposição de seu poder que ele traria Israel de volta e reconstruiria o templo. Ele entendeu isto e foi aí que o Senhor agiu. Deus iniciou sua transformação de humildade através do líder político - Zorobabel - e do líder religioso - Josué - para que o povo todo fosse impactado pelo exemplo de suas duas testemunhas, pois liderar é dar o exemplo. Em nosso tempo e em nossa nação, Deus também agirá transformando os corações dos líderes (ou substituindo as pessoas e derrubando poderes). O Brasil não mudará se os pastores atuais não mudarem ou forem substituídos. A iniquidade não será eliminada se os governantes, legisladores e magistrados atuais não mudarem ou forem substituídos. E esta transformação não será feita nem por revoluções bolcheviques ou de movimentos sociais, muito menos pelo poderio militar ou pela força do capital. Deus agirá silenciosamente no meio da igreja e da sociedade. Como foi no tempo da Reforma Protestante, homens e mulheres de caráter deixarão de ser omissos, e com a sabedoria do Espírito voltarão a fiscalizar e a exigir das autoridades políticas, sociais, empresariais e eclesiásticas a boa gestão das vidas pelas quais eles são responsáveis e dignamente remunerados. Com o amor e a força de Deus, homens e mulheres de bem deixarão de se preocupar com a posição do país no ranking do futebol e passarão a cobrar da imprensa, das empresas, das igrejas, das associações e dos partidos políticos ações efetivas para tirar o país das vergonhosas últimas posições nos rankings mundiais de segurança, educação, saúde, mobilidade e crescimento econômico. Com a ousadia e a unção do Espírito, homens e mulheres lavados no sangue de Jesus dedicarão suas mentes e corações na construção de um mundo novo e diferente, onde o mais importante é o amor.

Graça e Paz!

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