Texto publicado na Revista Central do Barreiro - Número 06 - Dezembro/2013
http://www.centraldobarreiro.com/categoria/ministerios/revista-central-do-barreiro/
Texto estudado nos GCEMs da Igreja Batista Central do Barreiro em janeiro/2014.
Os desafios de uma igreja família
Uma família é não é uma instituição qualquer. As pessoas
de uma família são ligadas entre si por laços permanentes e inquebráveis. Em
uma igreja-família os mesmos conceitos são válidos.
Ser igreja-família é muito mais difícil do que ser igreja-instituição.
Enquanto a igreja-instituição é formada por membros-associados com direito a
voto, a igreja-família é formada por membros-irmãos que buscam a unanimidade,
em amor. Enquanto a igreja-instituição funciona como uma organização
administrada para alcançar resultados e metas, a igreja-família é como uma mãe
que conhece cada filho pelo nome e os ama com suas manias, seus sonhos, seus
talentos e dificuldades. Se em uma igreja-instituição as pessoas vêm e vão,
participando convenientemente ora aqui, ora acolá, em uma igreja-família as
pessoas não são descartadas nem podem se excluir de forma natural muito menos
oculta.
Na Igreja Batista Central do Barreiro,
que em 2014 completará 18 anos de fundação, estamos certos de
que vivemos apenas o começo de uma jornada que só encontrará seu fim quando o
Senhor Jesus Cristo voltar. Não somos ainda a igreja-família que almejamos ser.
Nosso desafio é talvez o mais duro, mas ao mesmo tempo o mais nobre que se
possa ter. Somente o Espírito Santo pode fazer esta obra, nos transformando de rebeldes
em discípulos, de egoístas em intercessores, de corneteiros da murmuração em ministros
do amor.
Ser uma igreja-família, vivendo o amor
de Cristo, alcançando o próximo e formando discípulos não é apenas um enunciado
bonito para a visão da nossa igreja. É a nossa fome diária, a nossa busca
incessante em oração e ação. Viver o amor de Cristo é o ponto de partida para
nos tornarmos uma igreja-família e, consequentemente, alcançarmos nosso próximo
e torná-lo discípulo.
Os desafios estão diante de nós. Mas é o amor de Cristo
que nos constrange a abrir mão de qualquer coisa para botarmos o pé na estrada
e conduzirmos uma pessoa sem-igreja do nosso círculo de convivência a
frequentar os cultos e os grupos de comunhão (GCEM), e depois ser convencido e
guiado pelo Espírito Santo a querer mais e se tornar um membro ativo do corpo
de Cristo (pra casar). É o amor de Cristo que nos leva a cuidar de cada membro
da igreja-família de modo que ele se envolva e provoque seu crescimento
espiritual para se tornar um discípulo fiel de Jesus, que então passará a
servir com seus dons e ser promovido a servo, um ministro do reino de Deus,
realizando a missão, continuando a Sua obra.
Este é o nosso objetivo: cada um de nós sendo continuamente
transformados à imagem e semelhança de Cristo Jesus na medida em que passamos
pelos processos divinos e nos tornamos pessoas melhores na evangelização, na
comunhão, na doutrina, na celebração, na oração, na ação social e impactando a
sociedade. Sozinhos não conseguiremos. Mas temos Cristo, e temos também uns aos
outros. Bendito seja o Senhor!
1º Desafio: Pé na Estrada
O primeiro desafio da igreja-família é
estar empenhada em conquistar gente nova todo dia (evangelização). Por mais
gostosa e alegre que seja a comunhão dos membros dessa família, jamais podemos
nos esquecer de que a Igreja de Cristo tem uma missão: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura!” (Marcos
16.15).
Cumprir a missão do “Ide” significa que
precisamos “tirar o poposão da
cadeira” e trabalhar duro para levar a Cristo o máximo de pessoas possível,
pois sem Cristo não há salvação. Embora seja do Espírito Santo o papel de convencer
o homem a respeito do pecado, da justiça e do juízo e também de acrescentar à
igreja-família os que vão sendo salvos, é nosso papel anunciar o evangelho a
todos. A igreja-família conhece sua responsabilidade e diz: “Ai de mim se não anunciar o evangelho”
(1 Coríntios 9.16).
O problema é que muitas vezes nos
comportamos como se esta fosse uma atribuição somente de alguns poucos
evangelistas, pastores ou missionários. Além de não ter indivíduos específicos
encarregados da evangelização, a igreja-família também não é focada em
marketing, panfletos, carro de som ou eventos para atrair multidões.
Não é difícil encontrar igrejas que nada mais são do
que um “clube de amigos”, formado por pessoas que, embora bem intencionadas,
não vão, não evangelizam, não batizam, enfim, não cumprem a missão. Mas o
Senhor não nos ordenou: “Esperai por todo
o mundo dentro do templo”, mas “Ide
por todo o mundo e pregai o evangelho”.
Cumprir a missão do “Ide” não significa
organizar uma igreja para os “sem-igreja”. Não! Também não implica em ter as
portas abertas – ainda que com tapete vermelho - para receber a comunidade.
Também Não! Isto pode ser feito, mas o amor de Cristo nos constrange a mais que
isto. Temos que ir, andar, caminhar, visitar, correr, circular em todos os
lugares (Lucas 10.1). Assim como um artista tem de ir aonde o povo está, e não
pode ficar parado esperando que as pessoas comprem seus discos, assim também a
igreja-família tem de ir aonde o povo está, e não pode ficar parada esperando
que as pessoas sintam no coração o desejo de visitar o templo ou o grupo de comunhão
(GCEM).
O Senhor Jesus lavou os pés de seus discípulos não
somente por sinal de humildade, mas principalmente para nos ensinar que devemos
Ir e Pregar: “Quão formosos os pés dos
que anunciam o evangelho da paz” (Romanos 10.15). A igreja-família precisa
botar o pé na estrada e estar presente não apenas no templo e no grupo de
comunhão, mas tem de estar nos asilos, nas creches, nos presídios, nos hospitais,
nas escolas, nas empresas, nas casas e nas ruas.
Nosso desafio é grande, mas se nossa visão é “alcançar
o próximo”, não temos escolha. Somos destinados a amar os “sem-igreja” e ir até
eles como mensageiros que levam a boa notícia da salvação.
2º Desafio: Essa é pra casar
Todas as pessoas alcançadas pela
igreja-família vêm por ação do Espírito Santo. Seja porque a igreja põe o pé na
estrada, seja porque são convidadas a um culto ou grupo de comunhão (GCEM), ou
mesmo porque encontram as portas abertas e entram, essas pessoas encontram
conforto na mensagem, se identificam na adoração, se sentem bem recebidas e
passam a frequentar os cultos e GCEMs com alguma regularidade.
Um problema que se vê é que, assim como
um consumidor escolhe um restaurante para comer hoje e outro amanhã, conforme a
conveniência, assim também muitos desses “frequentadores de igreja” não têm
fidelidade a nenhuma igreja local e já incorporaram a resposta descompromissada
na ponta da língua: “eu parei de ir na Quadrangular e agora tô indo na Central,
e você?”; “eu? antes eu ia na Getsêmani, mas agora eu tô indo na Lagoinha”. São
como macacos malucos “pulando de galho em galho”. Essas pessoas são como
namoradoras “galinhas”, que ficam com vários “galos” ao mesmo tempo.
Outros até aparentam certa
“fidelidade”, mas se não giram tanto como o frequentador itinerante, também não
passam de frequentadores descompromissados da mesma igreja. Ou seja, eles estão
presentes nos cultos e GCEMs da igreja, mas a igreja não pode contar com eles.
Não têm aliança. Não entendem o que é ser membro de uma família. São como
namoradoras “ficantes”, que gostam de “estar junto”, mas não querem colocar
anel de noivado no dedo.
Os frequentadores “galinhas” e “ficantes”
precisam entender que Cristo vem buscar uma noiva, não um “affair”, uma
namoradinha, uma amante ou uma garota de programa. A igreja-família é uma noiva
desejada! Sua fidelidade diz: “Eu sou do
meu amado, e o meu amado é meu!” (Cântico 6.3). O Noivo Jesus olha pra ela
e diz: “Essa é pra casar!”, ou em outras palavras: “Tu és toda formosa, meu amor, e em ti não há mancha. Jardim fechado és
tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.” (Cânticos
4:7,12).
Alguns esperam ser fiéis a Deus sem ser
fiéis a uma igreja local. Este costume é antigo, mas é duramente rejeitado pela
Palavra de Deus: “Não deixemos de
reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos
outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia.” (Hebreus 10:25).
O Espírito Santo nos conduz à comunhão dos santos, a estarmos juntos com os que
creem, compartilhando nossa vida e tendo tudo em comum (Atos 2.44). Um membro fora
do corpo definha e morre, assim também um frequentador que não se alista é soldado
sem comandante, jogador sem técnico, ovelha sem pastor, criança sem família. Comunhão
é sinônimo de compromisso. Quem não tem compromisso, não tem comunhão.
O segundo desafio da igreja-família é
promover a verdadeira comunhão entre seus membros. Ainda que tenhamos crescido
muito a ponto de não ser possível nos conhecermos todos, precisamos nos ajuntar
em grupos de modo que todo indivíduo tenha nome, que toda necessidade seja compartilhada,
que toda ovelha seja pastoreada e cuidada individualmente, e não somente “por
atacado”.
3º Desafio: Crescimento Espiritual é Provocado
Não basta sermos evangelizados,
batizados, frequentarmos uma igreja-família e termos comunhão uns com os
outros. Somos chamados a crescer espiritualmente e nos assemelharmos a Cristo! Somos
chamados a ser discípulos de Jesus, homens e mulheres cheios do Espírito Santo
e de fé.
O terceiro desafio da igreja-família é levar todo membro
à estatura de homem perfeito, à medida da plenitude de Cristo (Efésios 4.13). Esta
é uma obra do Espírito Santo, mas cabe a nós provocá-la. A Palavra de Deus diz:
“Enchei-vos do Espírito!” (Efésios
5.18). E como é possível ao homem provocar a ação de Deus e se encher do Espírito?
A continuação do mesmo texto responde: “Falando
entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao
Senhor no vosso coração; Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em
nome de nosso Senhor Jesus Cristo Sujeitando-vos uns aos outros no temor de
Deus.” (Efésios 5:19-21).
Para sermos discípulos de Jesus, temos
que ser discípulos uns dos outros, sujeitando-nos uns aos outros no temor de
Deus. Imitamos um discípulo mais maduro de Cristo, e assim somos discípulos de
Cristo (1 Coríntios 11.1).
No processo de discipulado, o
discipulador e o discípulo se comprometem em provocar e acompanhar o crescimento
espiritual do discípulo em oração, doutrina, celebração, comunhão,
evangelização, ação social e impacto na sociedade. Crescimento espiritual
envolve aumento de conhecimento, sabedoria, visão, habilidades e caráter. É uma
relação de confiança, pois pressupõe que o discípulo se abra para ser tratado.
Para a maioria dos cristãos atuais é
muito difícil manter uma relação de discipulado. Mas fazer discípulos é o principal
imperativo da grande comissão, ordenada pelo Senhor Jesus ressuscitado e
revestido de toda autoridade: “E, chegando-se
Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto
ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e
do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu
vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação
dos séculos. Amém.” (Mateus 28:18-20).
Para haver discipulado é preciso disciplina.
Assim como exercícios físicos nos trazem boa forma física, assim também o
hábito de praticar exercícios espirituais nos permite adquirir e manter boa
forma espiritual.
É pelo amor de Cristo que somos uma igreja-família
“formando discípulos”. Nada pode ser mais importante em nossa vida do que
sermos cada dia mais parecidos com Jesus, nós mesmos e as pessoas que
discipulamos. Você tem uma pessoa específica (spiritual trainer) que se reúne
com você com regularidade porque o ama e está comprometido de forma bem pessoal
a ajudá-lo a crescer espiritualmente?
4º Desafio: Promovido a Servo
Vivemos em um mundo de grandes
ambições. Buscamos o poder, o reconhecimento, a fama. Mesmo entre os discípulos
de Jesus, não é difícil encontrar embates hierárquicos e aspirações por
títulos. Mas entre nós não deve ser assim! (Lucas 22.24-26). A maior honra que
uma pessoa pode alcançar no reino de Deus é ser considerado um “servo bom e
fiel” (Mateus 25.21). Somos chamados a nos abaixar e lavar os pés uns dos outros
(João 13.14).
Quando somos cheios do Espírito Santo,
ele nos capacita a servir: “Cada um
exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a
graça de Deus em suas múltiplas formas” (1 Pedro 4:10). O discípulo que não
serve o outro, na verdade, não serve pra nada. A religião leva o homem à busca
individual de um deus para si mesmo, mas o amor de Cristo nos leva a amar o
nosso próximo e a dar a nossa vida por ele (1 João 3.16). No reino de Deus não
há lugar para expectadores.
O quarto desafio da igreja-família é transformar
cada discípulo em um servo de Deus e da igreja, um ministro do evangelho
capacitado para toda boa obra (2 Timóteo 3.17), completando a missão que Cristo
começou na terra, pelo poder do Espírito Santo. A saúde de uma igreja é medida
mais pela sua capacidade de formar e enviar ministros e missionários do que
pelo número de bancos que possui (Rick Warren).
O ministro é o discípulo que dedica sua
vida a transformar uma pessoa ‘sem-igreja” em um outro ministro, através de um
processo que começa na frequência ao culto e grupo de comunhão (GCEM) do
“frequentador”, passa pelo batismo ou recepção do “membro” e depois o
transforma em “discípulo” e finalmente em “ministro”, que por sua vez é enviado
novamente ao campo para repetir o processo, conforme figura abaixo. O objetivo
é que a pessoa comece no círculo maior e vá se aprimorando até chegar ao
círculo menor. Os círculos diminuem de tamanho porque alguns ficarão pelo
caminho, e jamais deixarão de ser “sem-igreja”, outros nunca passarão de
“frequentadores”, outros serão “membros” mas não encararão o discipulado e
outros ainda serão discípulos, mas não terão o privilégio de ministrar. Mas a
vontade de Deus para todo cristão é que ele sirva com dedicação e se torne um
ministro, conforme o dom recebido, e que ele tenha o mesmo nível de compromisso
com o reino de Deus que tem o pastor-presidente da igreja.
Nem todo músico é ministro de louvor.
Nem todo recepcionista é ministro da comunhão. Nem todo pregador é mestre da
Palavra ou profeta do Senhor. Nem todo “testemunhador” é evangelista. Servir a
Deus e ao outro é mais do que executar tarefas. É um penoso trabalho, inundado
de amor, dedicação, unção do Espírito e graça, muito mais do que de competência
e talento.
Não
convém que um recém-convertido ou recém-chegado à igreja-família seja destacado
para servir, muito menos uma pessoa que não tenha um testemunho irrepreensível
tanto pessoal quanto em sua casa (1 Timóteo 3.5-7). Se alguém aspira servir na
igreja-família, deseja a mais nobre das funções, digna de duplicada honra e
reconhecimento (1 Timóteo 3.1, 5.17). Por isso devemos orar sempre por nossos
pastores.www.blogdopastortulio.blogspot.com.br
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