Devocional de 15/03/2014.
“Quando um país cai nas mãos dos ímpios, ele venda os olhos de seus juízes. Se não é ele, quem é então?" (Jó 9.24).
Enquanto debatia com seus amigos sobre a justiça ou injustiça dos sofrimentos que lhe sobrevieram, Jó nos relatou esta preciosidade inspirada pelo Espírito Santo, que fala sobre sua visão a respeito da injustiça.
A teologia de Jó atribuía tudo a Deus. Ele não reclamou quando perdeu todos os seus bens e até a sua família porque considerava que o bem e o mal procediam de Deus. Veja o que Jó disse a sua esposa: “Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?” (Jó 2.10). Da mesma forma, Jó atribui a Deus a ruína de uma nação governada pelos ímpios e injustiçada por seus magistrados (Jó 9.24).
Algumas pessoas podem não gostar desta maneira de ver as coisas, que atribui a Deus a responsabilidade por tudo que acontece debaixo dos céus. Mas a Bíblia é recheada de fundamentos que justificam isto, no antigo e no novo testamento. Desde que não se confunda a centralidade em Deus com algum tipo de fatalismo robotizado, Deus deve sim ser visto como Aquele que condena e salva, que amaldiçoa e abençoa, que faz adoecer e cura, que entrega à impureza e livra do mal, que manda prender e manda soltar - Deus tem todo o poder (Jó 12.16). Ele ama Jacó e aborrece Esaú, aceita a oferta de Abel e não a de Caim... Ele é Senhor sobre o céu, sobre a terra e sobre o inferno. O próprio satanás não passa de um servidor de Deus, mais um anjo no meio dos outros, separado para realizar os Seus propósitos (Jó 1.6; 2.1).
Está assustado? Compare 1Crônicas 21.1 e 2Samuel 24.1 e me responda: Quem foi que levou Davi a realizar o censo de Israel e Judá: O Senhor ou satanás? Perceba que se você crê que a Bíblia é coerente, então é preciso se render à explicação que atribui esta realização a satanás, como um cumpridor da ordem de Deus, de modo que tanto faz alguém dizer que o autor dessa incitação foi satanás (o pau mandado) ou que foi o Senhor (o mandante).
Mas o diabo não é adversário de Deus? - alguém pode questionar. Na verdade, satanás é definido como nosso adversário. Deus não tem um inimigo à sua altura de modo que se possa definir dessa forma. Não faz sentindo aquela imagem clássica que coloca Deus e satanás disputando uma queda de braços pau-a-pau. Não é assim! O diabo é inimigo do homem, sim. Mas não passa de um empregadinho de Deus.
É por isso que Jó afirma que é Deus é quem coloca vendas nos olhos dos juízes - ainda que seja por meio de ordens a satanás para que ele faça isso. O próprio Senhor é quem entrega uma nação governada por ímpios a todo tipo de injustiça por meio daqueles que deveriam produzir justiça. É com Deus que Jó quer brigar, pois entende que nenhum sofrimento lhe poderia sobrevir a não ser que Guarda de Israel deixasse de guardá-lo, por qualquer motivo.
Tamanha compreensão a respeito da soberania de Deus faz com que Jó trate com desprezo as máximas religiosas enunciadas por seus amigos, que se lidas sem a devida atenção, parecem verdades belas e absolutas, mas se entendidas com a sabedoria do Reino de Deus, mostram-se ineficazes e sem-misericórdia para lidar com a dor e a angústia daquele que sofre.
À semelhança de Jó, decidi direcionar a Deus minhas frustrações em relação à impiedade dos que governam nosso país, à corrupção de nosso juízes, à insanidade de nossos anciãos, à fraqueza de nossos sacerdotes e pastores e, é claro, ao sofrimento de minha esposa em sua batalha contra o câncer. Não há explicação-padrão ou discurso-pronto que possa me convencer dessa teologia de banca de revista escondida nos discursos de Zofar, Bildade e Elifaz. Não há como negar que Jó tem razão quando afirma que tanto faz: "É tudo a mesma coisa; Deus destrói tanto o íntegro quanto o ímpio" (Jó 9.22). O livro de Jó, o primeiro dos livros de sabedoria da Bíblia, o mais antigo livro escrito neste conjunto de livros inspirados por Deus, é também um livro que desconcerta completamente a sistematizada e fraca compreensão incompleta contemporânea a respeito de Deus, pois O coloca como um ente derrotado pelas circunstâncias da vida, ao invés de senhor delas.
Este entendimento pleno a respeito da soberania de Deus, que está acima do bem e do mal, me faz afastar dele? De modo nenhum. A percepção de que não há diferença entre o sol e a chuva que Deus derrama sobre justos e ímpios me fazem dar de ombros para o jeito de levar a vida? De forma alguma! Quando conheço melhor a glória insondável e a grandeza inefável do Todo-Poderoso Senhor do Universo, torno-me ainda mais apaixonado por Ele, e ainda mais comprometido com o estabelecimento do Seu Reino sobre a terra. Não há outra verdade tão relevante quanto: Jesus Cristo é o Senhor.
Para mim, a oração, a intercessão e a ação em prol de minha esposa e filhos, de minha igreja, de minha pátria, dos governantes, legisladores e juízes de meu país e dos pobres de minha nação se tornaram ainda mais relevantes. Se Deus, o Soberano, tem nos entregado à imoralidade, à miséria, ao vício, à calamidade climática e ambiental, à corrupção travestida de jeitinho brasileiro em todos os níveis de relações humanas, à negligência e à falsa piedade nos templos cristãos, à exploração dos incautos pelos mercenários politiqueiros e a todo tipo de roubo e violência pelos cafajestes da bandidagem, é porque Ele entendeu que esta era a melhor maneira de tratar conosco neste tempo, e somente o nosso arrependimento sincero, o nosso clamor humilhado e o nosso quebrantamento verdadeiro podem comovê-lO e, quem sabe, fazer com que Ele mude sua opinião e juízo a nosso respeito, sarando a nossa terra e fazendo de nós o Seu povo.
Deus, converta-nos a Ti e salva-nos!
Graça e Paz!
blogdopastortulio.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário